sexta-feira, 3 de junho de 2011

Tem Medo?

Respodi que não.

"Nada em específico", " De nada? Não é possível", "Nada..."

Sou a pessoa menos medrosa que conheço, foi o que disse, de queixo levantado e olhar vazio.
Nem altura, nem barata, nem cobra.
Verdade que já me amendrontei diante da altura de um ou outro precipício, que não gosto de baratas, e que espero nunca ser picada por uma cobra. Mas nenhum desses medos me assola em um fim de tarde chuvoso, nem permeia meus pesadelos.
Nesse sentido, sou mesmo a pessoa menos medrosa que eu conheço.

Mas ninguém reparou - ninguém nunca repara - no 'nesse sentido' que eu botei na frase. Se notassem o detalhe, minha resposta teria de ser diferente. Porque, de fato, tenho medo de muitas coisas.

Tenho medo de me tornar alguém que eu não admire. Tenho medo de não poder ajudar quem eu amo ou de não ser capaz de proteger aqueles a quem quero bem.

Eu morro de medo.

Medo de não conquistar nada que quero. De confundir minhas histórias com a realidade e não saber mais distingui-las.

Sim

Eu tenho medo, muito medo, de me perder aqui e esquecer de viver.
Medo de prolongar esses instantes de reclusão e acabar ficando sozinha por muito tempo. Escrever não é a arte de sentar a bunda na cadeira, como li uma vez, embora seja certo que não exige pré-requisitos. Escrever é a arte de saber se equilibrar sobre a linha tênue entre o real e a fantasia. Conseguir se manter são à beira do abismo da loucura e da frustração. Tenho sim, e não nego, muito medo de cair.

Eu tenho medo de tudo.

Nesse sentido, sou a pessoa mais medrosa que eu conheço.
E é justamente por causa desse medo todo que eu me limito a escrever a resposta que calei aquele dia.

Porque nem mesmo consigo falar de tudo que eu tenho medo.