quinta-feira, 19 de abril de 2012

Morrer de Amor

Tirei da gaveta e a pus em suas mãos.
- Que isso? - , arregalara os olhos diante do meu 38.
- É meu. Mantive escondido até agora. Guardei a vida inteira, especialmente para esse momento. Era um segredo só meu... agora é nosso. - o silêncio assustado perdurou alguns segundos - Enlouqueceu?
Não, não tinha enlouquecido. Estava tão são quanto era possível - nunca estivera melhor, a bem da verdade.

Amava-a de toda a alma, não só de coração. Amava-a mais do que existia. E se alguma vez eu existira de fato, decerto existira só para amá-la. Mas nem sempre seria assim, o tempo iria desgastar-nos o amor e viraríamos uma memória. Reinaria entre nós a indiferença pós-parasempre como em todos os amores sem fim. Ela não entendia - congelara ali, olhos esbugalhados, 38 na mão.

Botei minha mão na sua, posicionei o revólver, apontei-no para o peito. Sentia o cano gelar através da camisa e a via sofrer com um desespero mudo e paralizado. Fiz o seu dedo puxar o gatilho devagar, saboreando os meus últimos instantes rumo ao eterno.
Ela não entendera. Não entendia. Mas há de perceber, um dia. Há, então, de me amar ainda mais, pois a amei mais que qualquer outro amante. Porque, a partir de agora, meu amor será eterno. Dando-lhe um fim, fiz dele infinito. Morri poeta... Fui pois mais poeta que o maior dos poetas. Houve que fiz da vida poesia em minha morte. Fiz o que tantos outros tentaram...

Viver de amor

Morrer de amor

E, pelo Amor,


BANG!


Morrer

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(e só)