sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Semicerrados

Não abro os olhos por completo. Mantenho-os assim, semicerrados, como que para protegê-los do mundo lá fora.
 Como um caminhão pesado em um chão sem asfalto. A poeira subindo e os olhos se fechando, em uma tentativa falha de se resguardarem. Um grão, uma folha, uma pedrinha. Uma criança morrendo. Um velho que vai sem se despedir. Um carro batendo.
E eu? Eu sou sujeito sem verbo. Aquele que vê, sem querer, e a quem cabe o lamento.

O telefone tocou: estava indo embora, já no avião. Disse que voltava logo, mas eu sabia que não. Não quis me ver porque ia doer, mas doeu (em mim). Recebi o adeus com um suspiro e nem pisquei. Enxuguei os olhos e continuei andando, como se nada fosse. Aceitei a dor com naturalidade (foi quando eu soube que tinha perdido). Começava a me acostumar...
 A vida me vencera, afinal.