segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Canto da Despedida

Desculpe a demora... Acontece que que as coisas em mim estão mudas sem você aqui e, pela primeira vez, eu não gosto do silêncio. O único som que eu ouço é o do violino que não para desde que você se foi - a insistente melodia da saudade.
A "ave-maria" mais bela que já ouvi, uma memória que agora não me abandona um segundo sequer. É só tão difícil organizar os pensamentos pra te dizer o adeus definitivo da maneira que merece...
Lembro de relance, assim mais com o coração que com a cabeça, o modo como meus pés balançavam soltos no assento, com o típico desinteresse das crianças, enquanto no palco você sustentava a sinfonia só nas notas, fazendo a Virgem chorar ao som do seu violino. Flashes do passado, rascunhos de uma memória há muito adormecida em mim que, agora desperta, não ousa cochilar.
Desculpe. Eu já devia ter vindo há muito tempo, mas não quis. Me faltou coragem. Não fui justa, devia ter vindo dizer-lhe meus mais sinceros agradecimentos por ter existido para mim, e agora só o que o atraso me deixa é um monte de pedidos de desculpas.
Desculpe o atraso. Tentei ao máximo adiar a aceitação, a despedida, mas já é hora. Foi um turbilhão de confusão discreta, de dor maquiada, mas já está em tempo de te deixar ir. Será uma vida mais incompleta sem você aqui, mas terei sempre o som do seu violino como um segredo só nosso, que me fará bailar sem ninguém entender. Já está mais que na hora. É que me parecia tão inútil e desrespeitoso preencher de palavras um papel quando você acaba de partir... Agora só me parece desrespeitoso não fazê-lo.
Estou te dando única despedida que eu de fato aprendi: a calada, segredada, só de nós dois.
Foi uma honra ser a sua pequena estrela, e será assim sempre, mas temo termos já que trocar os papéis.
Perdoe a demora. Perdoe a fraqueza. Perdoe a ausência.
Há tanto com o que lhe faltei...
Pendure as dívidas para outra hora, mas o meu amor...
Faça perdurar...

para todo o sempre.