sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Três Goles de Você

Senti seus dedos fortes e gentis me apertarem os pés. Deitávamo-nos no sofá, meus pés em seu colo, enquanto ele os massageava lentamente. Contornava-me o calcanhar, subia pelos tornozelos, roçava os dedos pelas minhas panturrilhas.
- É bom ficar assim - sorriu, do jeito que eu gostava. Era um risinho discreto, que poderia facilmente ser confundido com tristeza. Mas não por mim. Eu sabia que aqueles eram os mais verdadeiros. Os olhos tinham certa dor - a dor do amor. Da felicidade tão pura que faz doer o peito e fechar a garganta. Seus olhos sempre ficam prateados quando ele sorri assim. Eu amo o verde dos seus olhos, mas o prateado... o prateado faz ventar dentro de mim.
- A gente pode ficar assim sempre que você quiser. Eu gosto de ficar assim - roubei mais um vislumbre do seu sorriso (o que só ele tem) e deixei que seus olhos prateados prendessem os meus, me envolvessem, me banhassem, enchessem minha vida daquele brilho.
Mas a pressão nos tornozelos foi diminuindo, o brilho se apagando... até eu estar completamente sozinha no escuro.
Rolei do sofá para o chão e engatinhei para... Onde foi que eu coloquei mesmo? Em algum lugar por... Achei! Abri a tampa e colei o gargalo nos lábios. Me reaconcheguei no sofá e senti o líquido descer queimando por mim. Queimando... Queimando... Até sentir a pressão no pé voltar, e a sua respiração calmante pairar no ar.
- Bom te ver de novo. Senti sua falta - sussurrei, me dando conta do meu rosto todo molhado.
Ele se debruçou em mim, a mão traçando a linha da minha bochecha.
- Você não devia chorar - sorriu, mas eu pude notar que havia mais dor naquele riso que de costume. O meu sorriso... só meu.
- Não estou chorando.
- Eu sei que não. São esses dois pequenos mares que você tem aí, - disse, encarando meus olhos verdes, só não tão belos quanto os dele - estão transbordando - beijou-me a testa e se deitou comigo.
Eu podia sentir sua respiração na minha orelha enquanto deitava de lado. Ele pegou a garrafa a qual eu me mantinha abraçada e a pôs na mesinha de centro, para depois pousar um braço sobre mim, me abraçando, me aquecendo.
- Descanse um pouco - ouvi ele murmurar.
Eu queria a todo custo me manter acordada, mas já sentia o sono me levando embora. Então agarrei-me firmemente à mão dele, para me convencer de que ele era real, que ficaria ali a noite toda, que ainda estaria ali quando eu acordasse. Mas eu sabia que acreditar nisso era ridículo.
Não tardou até que o sono me vencesse por completo, e a última coisa que lembro é de me perguntar quantos torturantes segundos seriam necessários para chegar à mesinha de centro quando a manhã, por fim, me despertasse ( e ele não estivesse ali).

Hoje Não

Hoje não serei teu manto, teu descanso, teu pranto. Nem tampouco farei de meus lábios pincel, a colorir-te a pele, ou a apagar-te as dores (de outros amores).