quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

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Por três vezes tentei me afogar. Três tentativas desesperadas de que a água que entrava me fizesse transbordar de mim, me livrasse de mim, me libertasse de mim, parasse o que quer que seja que tem feito a maldita voz ecoar mais alto na minha cabeça. Chega de mim para mim. Estou farta de tanto eu, que me ocupa, me desgasta, que não para de pensar nem por um segundo.
Por Deus, alguém me cale! Tirem-me o ar, nem que só por um instante... Deixem-me sem fôlego! Eu quero valer a pena! Façam minguar meus anseios, sumam com a vergonha que tenho de não esquecer (de não te esquecer). Façam com que ele suma. Com que todos sumam. Desapareçam com este escrito e com qualquer outra prova de que não tive sequer a capacidade de me afogar de fato.
Três vezes, todas elas falhas. Fui fraca demais para segurar a respiração até a água entrar; faltou-me a coragem para deixá-la transbordar. Veio só o desespero do emergir, do ar que entra arranhando a garganta ao ponto de sangue. Ao menos assim me calo - se não a cabeça, a boca. Posso fingir, então, que está tudo bem... Camuflar a vergonha e fazer de conta (como eu adoro) que não doeu. Mas doeu, sim, e ainda dói... E continuo em mim, é essa a pior parte. Ainda estou aqui. E não sei como sair.

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