domingo, 25 de setembro de 2011

Não leia nada daqui

Poesia estragada, corroída, mofada. Mau gosto tremendo e lírica fraca. Sou um péssimo poeta.

P.S.: Todos esses textos são uma merda.

Sim,



Eu tenho medo de ir embora e medo de ficar aqui. Eu tenho medo de ser eu e medo de me perder. Sou firme por fora e indecisa por dentro. Tenho outras vidas empilhadas na minha estante. Guardo segredos que não conto a ninguém. Sou certinha, mas gosto mesmo é de beber. Adoro um arrasta pé, odeio calor, quero aprender a escrever. Eu tenho medo de me mostrar e você não gostar de mim.

Eu sou simples quando não estou tentando me entender.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Michelle*


Eu não sei como ela consegue, mas seu jardim está sempre florido. Vez ou outra, quando a brisa é forte o suficiente para carregar perfumes e branda o bastante para ser agradável, eu consigo sentir o cheiro das flores que enfeitam o seu quintal.

(Minhas preferidas são as amarelas, que murcham quando ela chora escondido nas noites frias, mas voltam a desabrochar quando ela reencontra o sorriso que sempre carrega).

Quando é dia de sol, as borboletas azuis vêm pousar nas flores e se misturam ao céu de brigadeiro. Mas quando a noite cai, são os vaga-lumes que vêm brincar com os botões de seu jardim (tenho para mim que eles gostam da presença dela tanto quanto eu). Da varanda, onde eu me sento ao seu lado, é maravilhosamente impossível distingui-los das estrelas e ninguém, além de nós duas, conhecerá o prazer de ver uma estrela voar quando um vaga-lume se cansa do sossego de uma flor.

Mas eu nunca saberei a sensação de andar entre essas rosas, pisar na grama verde, ou sentar em meio às borboletas.
O jardim não aguentaria. As pétalas são frágeis, as borboletas medrosas.
Ela não aguentaria. Ela não deixaria ninguém entrar no seu precioso jardim, nem mesmo eu.
Mas tem o nascer do sol atrás dos montes ao longe, o contraste do azul das borboletas com o amarelo das rosas, as estrelas voadoras. E tem também aquela música, que de vez em quando ela toca e enche o ar, e a minha vida, de alegria. Eu posso ver tudo isso daqui da varanda.
E enquanto eu puder ver tanta beleza, não me importo que ela não me deixe ir ao jardim. Não me importa que ela esconda bem o coração, que abafe a solidão. Porque, mesmo depois de tanto tempo, eu ainda estou aqui, e não vou sair do lugar. Ela sabe disso. Eu sei disso.
E, ainda que eu não caminhe entre as flores, eu consigo enxergar toda a beleza do seu jardim.


E isso basta para mim.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

8 a Mais

"Um dia desses eu me caso com você"
Na praia, eu vestida de um pano bem simples, branco, até o tornozelo, com uma coroa de flores no cabelo, descalça.
Eu balançava as pernas penduradas na cadeira. Ele riu, estendeu uma das mãos e bagunçou meus cachos.
Era hora do almoço, mamãe logo viria nos chamar. Estávamos de férias. Tínhamos quase o mesmo sangue, minha mãe era irmã da madrasta dele. Eu não sabia o que isso nos fazia ser na época... Não sei até hoje, para ser sincera. Só sabia que ele era lindo, que cuidava de mim... E era tão carinhoso!
Eu tinha só 7 anos. Ele já tinha 15.

Olhei para ele ajoelhado na minha frente. Os olhos tremiam nervosos. Parecia extremamente frágil, mais lindo que nunca.
Tenho 23 anos agora. Não sei quando aprendi a conquistá-lo. Olhando bem para ele, de anel na mão, sei que não fui eu. Foi só ele que aprendeu a me amar. E me ensinou, também. Como me ensinou a soltar pipa, a somar e diminuir, e a pisar no pé de garotos abusados.
É engraçado como eu sabia que estaria onde estou agora há tanto tempo atrás. Ou não sabia? Sabia, sim.
Ri e me inclinei para frente. Estendi a mão, mas ignorei o anel. Baguncei os cabelos dele com doçura.
" Eu disse que um dia desses me casava com você"
E era como se sempre tivesse sido assim.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Três Goles de Você

Senti seus dedos fortes e gentis me apertarem os pés. Deitávamo-nos no sofá, meus pés em seu colo, enquanto ele os massageava lentamente. Contornava-me o calcanhar, subia pelos tornozelos, roçava os dedos pelas minhas panturrilhas.
- É bom ficar assim - sorriu, do jeito que eu gostava. Era um risinho discreto, que poderia facilmente ser confundido com tristeza. Mas não por mim. Eu sabia que aqueles eram os mais verdadeiros. Os olhos tinham certa dor - a dor do amor. Da felicidade tão pura que faz doer o peito e fechar a garganta. Seus olhos sempre ficam prateados quando ele sorri assim. Eu amo o verde dos seus olhos, mas o prateado... o prateado faz ventar dentro de mim.
- A gente pode ficar assim sempre que você quiser. Eu gosto de ficar assim - roubei mais um vislumbre do seu sorriso (o que só ele tem) e deixei que seus olhos prateados prendessem os meus, me envolvessem, me banhassem, enchessem minha vida daquele brilho.
Mas a pressão nos tornozelos foi diminuindo, o brilho se apagando... até eu estar completamente sozinha no escuro.
Rolei do sofá para o chão e engatinhei para... Onde foi que eu coloquei mesmo? Em algum lugar por... Achei! Abri a tampa e colei o gargalo nos lábios. Me reaconcheguei no sofá e senti o líquido descer queimando por mim. Queimando... Queimando... Até sentir a pressão no pé voltar, e a sua respiração calmante pairar no ar.
- Bom te ver de novo. Senti sua falta - sussurrei, me dando conta do meu rosto todo molhado.
Ele se debruçou em mim, a mão traçando a linha da minha bochecha.
- Você não devia chorar - sorriu, mas eu pude notar que havia mais dor naquele riso que de costume. O meu sorriso... só meu.
- Não estou chorando.
- Eu sei que não. São esses dois pequenos mares que você tem aí, - disse, encarando meus olhos verdes, só não tão belos quanto os dele - estão transbordando - beijou-me a testa e se deitou comigo.
Eu podia sentir sua respiração na minha orelha enquanto deitava de lado. Ele pegou a garrafa a qual eu me mantinha abraçada e a pôs na mesinha de centro, para depois pousar um braço sobre mim, me abraçando, me aquecendo.
- Descanse um pouco - ouvi ele murmurar.
Eu queria a todo custo me manter acordada, mas já sentia o sono me levando embora. Então agarrei-me firmemente à mão dele, para me convencer de que ele era real, que ficaria ali a noite toda, que ainda estaria ali quando eu acordasse. Mas eu sabia que acreditar nisso era ridículo.
Não tardou até que o sono me vencesse por completo, e a última coisa que lembro é de me perguntar quantos torturantes segundos seriam necessários para chegar à mesinha de centro quando a manhã, por fim, me despertasse ( e ele não estivesse ali).

Hoje Não

Hoje não serei teu manto, teu descanso, teu pranto. Nem tampouco farei de meus lábios pincel, a colorir-te a pele, ou a apagar-te as dores (de outros amores).

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Tem Medo?

Respodi que não.

"Nada em específico", " De nada? Não é possível", "Nada..."

Sou a pessoa menos medrosa que conheço, foi o que disse, de queixo levantado e olhar vazio.
Nem altura, nem barata, nem cobra.
Verdade que já me amendrontei diante da altura de um ou outro precipício, que não gosto de baratas, e que espero nunca ser picada por uma cobra. Mas nenhum desses medos me assola em um fim de tarde chuvoso, nem permeia meus pesadelos.
Nesse sentido, sou mesmo a pessoa menos medrosa que eu conheço.

Mas ninguém reparou - ninguém nunca repara - no 'nesse sentido' que eu botei na frase. Se notassem o detalhe, minha resposta teria de ser diferente. Porque, de fato, tenho medo de muitas coisas.

Tenho medo de me tornar alguém que eu não admire. Tenho medo de não poder ajudar quem eu amo ou de não ser capaz de proteger aqueles a quem quero bem.

Eu morro de medo.

Medo de não conquistar nada que quero. De confundir minhas histórias com a realidade e não saber mais distingui-las.

Sim

Eu tenho medo, muito medo, de me perder aqui e esquecer de viver.
Medo de prolongar esses instantes de reclusão e acabar ficando sozinha por muito tempo. Escrever não é a arte de sentar a bunda na cadeira, como li uma vez, embora seja certo que não exige pré-requisitos. Escrever é a arte de saber se equilibrar sobre a linha tênue entre o real e a fantasia. Conseguir se manter são à beira do abismo da loucura e da frustração. Tenho sim, e não nego, muito medo de cair.

Eu tenho medo de tudo.

Nesse sentido, sou a pessoa mais medrosa que eu conheço.
E é justamente por causa desse medo todo que eu me limito a escrever a resposta que calei aquele dia.

Porque nem mesmo consigo falar de tudo que eu tenho medo.