sexta-feira, 6 de maio de 2011

Na Minha Bagagem

Ela era forte. Tinha no olhar um ar maduro apesar da meninice. E bonita, sim...Mas fazia de tudo para esconder a beleza, para não se dar ao luxo de se entregar aos hábitos das moças da sua idade. Não se permitia sucumbir a mesmice. Tinha uma visão do mundo. Tinha noção de suas obrigações e a terrível mania de querer carregar todas as dores do mundo só para que ninguém mais tenha de fazê-lo.
Ia guardando tudo, jogando sobre os ombros, se oferecendo a carregar os fardos alheios. Seguia cambaleante. Alegava que dava conta, que se mantinha firme em pé.
Então se protegia. Polia sua armadura. Adornava-a de ouro. Fazia-na brilhar. E brilhava tanto que cegava. Cegava aos amados de quem se propusera a carregar a bagagem. Cegava a todos. Não deixava que a enxergassem por trás de tanta luz.
Mas não fazia mal, ela queria isso.
Queria que não a vissem por dentro; por trás da armadura. Só assim não se sentia vulnerável.
Tiraria a armadura somente quando debaixo das cobertas, e aí então choraria até não poder mais - só com a noite de testemunha.
Mas no dia seguinte - em cada dia seguinte - ela a colocaria de volta. E todos invejariam sua suposta imponência.
Mas não se incomode, está tudo bem: ela queria isso. Mesmo sem querer ela queria. Só assim poderia aliviá-los de carregar seus pesos sozinhos. Todos eles.
E por eles... Por eles ela carregaria todos os fardos do mundo, sem sequer reclamar.
Ela queria ser forte. Sempre forte.
Nunca fraquejar.
Por eles.
Para eles.

Mal sabia ela que, só isso, já a fazia forte...
Tão forte.

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