segunda-feira, 9 de maio de 2011

Desintoxicação

Escorreu bem devagar e eu nem me dei o trabalho de enxugar. Fiquei olhando. Acompanhando aquela gota que saía de mim.
Hoje, depois de tanto tempo, eu vi você.
O sol banhava meu rosto e lambia meus ombros. Você escorria de mim bem devagar e eu nem me dei o trabalho de enxugar. Fiquei olhando. Acompanhando enquanto você saía de mim. Escorria pelas minhas  pernas; pingava das minhas mãos.
Doía, a desintoxicação. Sofria a chegada da abstinência enquanto você brotava dos meus poros.
Tremia.
Chorava.
Queria você de volta. Não queria que você fosse embora. Me sentia culpada por te abandonar, blasfêmia que era esquecer você.
Tive alucinações, muitas. Mas teve prazer, de certo modo.
Ver você saindo. Ver a dor indo embora. Ver minha vida começando. Poder me concentrar em mim. Curtir a mim.
Então deixei você sair. Me perdoe, mas estou deixando você sair.
Pingar dos meus dedos sobre o papel. E no papel ficar.

Não mais em mim. Nunca mais em mim.

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