quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Pra Mim

Quanto eu vou ter que suar, e tremer, e gelar, para ele entender?
Eu queria saber escrever... Uma poesia assim, de fazer inveja, como as que eu leio e desejo que fossem minhas. Se eu soubesse fazer poesia... Aí, sim! Eu não teria de guardar nada em mim. Não me faltariam as palavras como sempre acontece. Não faltaria a emoção, o sentimento; nada do cansativo explicar minucioso, a poesia é toda intensa e completa, cabe inteira em si mesma. Os versos ficam, as frases se vão. Em vão. O que eu escrevo não adianta, nem pra mim, porque sempre falta o que falar, fica sempre a sensação do inacabado... os meus textos não dizem nada, significam nada, e do peso que eu carrego não me tiram nada também. É só uma tentativa desesperada de diminuir a confusão a ponto de fazê-la caber em uma folha. E nunca cabe. Sou só eu me permitindo ser eu sem que ninguém me veja. Mas se eu fosse poeta seria outra história... ou outra estrofe. A minha poesia lhes tocaria o coração, e eu não teria de jogar fora o tempo tentando pôr em prosa o que só uma boa poesia consegue dizer.

Eu queria que soubesse
(e sabe)
que é por isso
que eu tremo
que eu gelo
e que eu corro
(sem querer)

Do quê? Ainda não sei, eu precisava de uma poesia. Então vou jogando tudo assim, sem sentido, pondo em versos o que não é versável (porque eu nunca soube ser poeta).
E talvez assim, com uma poesia minha, eu consiga... Se eu lhe fizer uma poesia - se eu conseguir fazer uma boa poesia - você volta...? Volta? Você volta... (me faltou a palavra)...

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Bosta de Elefante

Eu não aprendi a falar. Perdão, não aprendi. Quero esclarecer uma coisa: nada do que eu escrevo é sobre amor, nem este texto, nem nenhum dos outros. Não escrevo a dor do amor, a alegria do amor ou o que quer que venha com ele. Odeio a ansiedade de vivê-lo e odeio a mania que as pessoas têm de enxergá-lo em todo canto. Maldita neblina que se apossou da vista de todos, até os textos me roubou. Eu o odeio, o amor. É provável que dizer isso não agrade a vida e eu já estou sinceramente arrependida, mas não sou de mentir, não posso fingir. É fato, eu o odeio. Acabo de descobrir isso e afirmá-lo é como tirar um peso das minhas costas. Vivi até agora suportando sua distante existência, ignorando sua ausência, mas já chega. Talvez seja porque ele deixou que eu me sentisse sozinha, não apareceu ou não foi suficiente, eu continuei só independente dele, mas não importa. Quero ao menos minhas palavras, não peço mais nada. Não preciso de nada além da minha liberdade de escrita, mas acontece que ele distorce tudo que eu rabisco. Ninguém entende o que meus textos dizem e eu não aguento, quero de volta a única coisa sobre a qual eu tenho controle e que o tal amor me roubou, quero minhas palavras, minha liberdade. Eu não sou mais nada. Não aprendi a ser ninguém. Eu sou a menina de cinco anos sentada no banco de trás do carro dos meus pais olhando pela janela, vendo a paisagem passar correndo e ficando enjoada. Ainda sinto a tonteira e o gosto de bílis. Querendo abrir o vidro, sair pela janela, esticar a mão e segurar a paisagem. Fazê-la permanente, fazê-la parar de ir embora, de me deixar sozinha, de me abandonar, eu quero ir com ela. A garotinha do papai, tão lindinha... Sempre fui, ainda sou e estou cansada de ser. De ser a "filha dele", a "filha dela", sou até a " irmãzinha dos meus irmãos", só não me deixam ser eu mesma. Tiraram de mim as palavras, e até o meu nome (que eu sei que tenho, só não consigo me lembrar qual é). Chata. Grossa. Estúpida. Violenta. Rabugenta. Deve ser um desses, deve ser... Me colocaram no banco de trás do carro do meu pai, apertaram-me o cinto e enfiaram tudo goela adentro, um bando de baboseiras que eu não sou. Disseram que eu tinha que engolir o choro e com ele, aos poucos, fui engolindo a mim mesma, enquanto tudo o que eu queria era o frescor e a leveza que esperavam do lado de lá do vidro, junto às árvores apressadas. Eu me engoli. Calei o que eu pensava, o que eu queria; me calei pra viver o papel que me deram sem chatear ninguém. Eu não aprendi a falar. Eu só aprendi a escrever, minha única liberdade, que agora não me pertence mais por culpa do amor. Eu estou de saco cheio. De saco cheio de tudo, de toda essa bosta de elefante libanês. Não me pergunte o porquê de a bosta ser de elefante ou o porquê de o elefante ser libanês, eu nem sei se existem elefantes no Líbano... tanto faz, a vantagem de ter um lápis e um papel é que você pode escrever a idiotice que te der na telha e, já que eu não posso escrever o que quiser sem parecer uma adolescente ridiculamente apaixonada, é assim que vou conservar minha liberdade, escrevendo bosta de elefante libanês por todos os lados. Enchendo meus textos de bosta de elefante! Não que antes eles fossem bons, mas enfim... Eu nunca tinha escrito sobre mim, não assim, botando pra fora tudo que passa na cabeça. Não faz o meu estilo, nunca quis, acho chato. Mas tudo bem, estou cansada de ser eu. Ou de não ser eu, melhor dizendo, seja "eu" quem for. For... Eu vou. Vou embora. Sim, embora, é a melhor maneira de dizer o que eu sinto. Eu vou embora daqui, é a única explicação que posso dar, não há o que acrescentar, isso é tudo. Não, não estou sendo vaga... Entenda, eu nunca aprendi a falar.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Reticências

Ele sempre começa suas histórias com "então". É como se, por um motivo misterioso qualquer, ele não soubesse dar a elas um início. Sempre parte do que já é, da continuidade, do dito que nunca foi dito, omitindo o engatinhar, o nascer e o renascer. Ele só gosta dos finais.

Ele não sabe começar um texto; eu nunca soube terminar. Tinha o hábito de virar minhas folhas à procura de um fim que (ele nunca entendeu) não precisava existir. Um fim que, inexistente, era um bom fim. Detesto finais desde que os conheci, os felizes e os infelizes, porque nenhum ponto final pode ser feliz - a menos que seja só um ponto.

Ele tem medo dos começos. Eu não suporto os finais. Talvez ele não precise começá-los se eu estiver ao lado. Talvez eu não precise terminá-los se houver um "então". Talvez seja por isso que meus textos andam tão incompletos. Talvez...

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Meu Meio-Homem


- Vou tomar como elogio.
- Mas era mesmo, sorriu.

Tinha um encanto visível pelos meus defeitos, "Eu gosto assim", dava de ombros. Penso que se deleitava por sermos tão parecidos e sempre tinha a gentileza de fingir que me ouvia. Me entregara demais, envolvida demais... Era tarde e vergonhoso.

Um meio-sorriso qualquer, um meio-abraço acanhado, um meio-elogio grosseiro, uma meia-grosseria carinhosa.
Eu não podia, nem ele, não com ele, por favor.
Ele me pediu uma coisa; uma coisa só e eu a neguei. Me ajudou tanto e eu lhe neguei o único pedido que já me fez: Eu.

Sempre fora um meio-homem, embora eu não tivesse enxergado. Embora por algum tempo tenha sido o que havia de mais completo e real para mim... segurança, proteção, aceitação, isso ele era por inteiro, e só ele.
Era tudo o que eu queria, cá entre meus lápis e papéis, cá entre meus rascunhos noturnos e meus lençóis. Mas era muito, mesmo que pela metade. Proibido...

Foi a primeira vez que não sorriu e era como se a ausência daquele riso apagasse da minha memória todos os anteriores. Até isso fez questão de levar consigo. Atravessara a porta para Nuncamais e eu tive de vê-lo voltar à vida correta, à mulher que o esperava em casa e que não era eu.

Como pôde? Como eu pude?

Bateu a porta e eu tinha razão, nunca mais voltou. Recolheu seu olhar meio sugestivo, seu meio-amor, suas meias-promessas, suas metades e seus hífens indevidos, e se foi.
Foi...
Como se eu não fosse nada além de uma rosa murcha e sem graça.

- Ana é uma flor, ele disse uma vez.
Uma flor solitária e abandonada. Sem nenhum pequeno príncipe.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Morrer de Amor

Tirei da gaveta e a pus em suas mãos.
- Que isso? - , arregalara os olhos diante do meu 38.
- É meu. Mantive escondido até agora. Guardei a vida inteira, especialmente para esse momento. Era um segredo só meu... agora é nosso. - o silêncio assustado perdurou alguns segundos - Enlouqueceu?
Não, não tinha enlouquecido. Estava tão são quanto era possível - nunca estivera melhor, a bem da verdade.

Amava-a de toda a alma, não só de coração. Amava-a mais do que existia. E se alguma vez eu existira de fato, decerto existira só para amá-la. Mas nem sempre seria assim, o tempo iria desgastar-nos o amor e viraríamos uma memória. Reinaria entre nós a indiferença pós-parasempre como em todos os amores sem fim. Ela não entendia - congelara ali, olhos esbugalhados, 38 na mão.

Botei minha mão na sua, posicionei o revólver, apontei-no para o peito. Sentia o cano gelar através da camisa e a via sofrer com um desespero mudo e paralizado. Fiz o seu dedo puxar o gatilho devagar, saboreando os meus últimos instantes rumo ao eterno.
Ela não entendera. Não entendia. Mas há de perceber, um dia. Há, então, de me amar ainda mais, pois a amei mais que qualquer outro amante. Porque, a partir de agora, meu amor será eterno. Dando-lhe um fim, fiz dele infinito. Morri poeta... Fui pois mais poeta que o maior dos poetas. Houve que fiz da vida poesia em minha morte. Fiz o que tantos outros tentaram...

Viver de amor

Morrer de amor

E, pelo Amor,


BANG!


Morrer

..................................................................................................................



(e só)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Canto da Despedida

Desculpe a demora... Acontece que que as coisas em mim estão mudas sem você aqui e, pela primeira vez, eu não gosto do silêncio. O único som que eu ouço é o do violino que não para desde que você se foi - a insistente melodia da saudade.
A "ave-maria" mais bela que já ouvi, uma memória que agora não me abandona um segundo sequer. É só tão difícil organizar os pensamentos pra te dizer o adeus definitivo da maneira que merece...
Lembro de relance, assim mais com o coração que com a cabeça, o modo como meus pés balançavam soltos no assento, com o típico desinteresse das crianças, enquanto no palco você sustentava a sinfonia só nas notas, fazendo a Virgem chorar ao som do seu violino. Flashes do passado, rascunhos de uma memória há muito adormecida em mim que, agora desperta, não ousa cochilar.
Desculpe. Eu já devia ter vindo há muito tempo, mas não quis. Me faltou coragem. Não fui justa, devia ter vindo dizer-lhe meus mais sinceros agradecimentos por ter existido para mim, e agora só o que o atraso me deixa é um monte de pedidos de desculpas.
Desculpe o atraso. Tentei ao máximo adiar a aceitação, a despedida, mas já é hora. Foi um turbilhão de confusão discreta, de dor maquiada, mas já está em tempo de te deixar ir. Será uma vida mais incompleta sem você aqui, mas terei sempre o som do seu violino como um segredo só nosso, que me fará bailar sem ninguém entender. Já está mais que na hora. É que me parecia tão inútil e desrespeitoso preencher de palavras um papel quando você acaba de partir... Agora só me parece desrespeitoso não fazê-lo.
Estou te dando única despedida que eu de fato aprendi: a calada, segredada, só de nós dois.
Foi uma honra ser a sua pequena estrela, e será assim sempre, mas temo termos já que trocar os papéis.
Perdoe a demora. Perdoe a fraqueza. Perdoe a ausência.
Há tanto com o que lhe faltei...
Pendure as dívidas para outra hora, mas o meu amor...
Faça perdurar...

para todo o sempre.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sopro

Seus lábios vivos, bem delineados, vão balbuciando as palavras para ninguém mais ouvir. Eternizam-se todas no silêncio do assobio do vento mudo e vão sendo levadas ao longe, aos becos e recantos das instáveis e inquietas memórias minhas. Sem rumo certo ou lugar de parada, indo só com o sopro do vento. Escrevendo a minha história de nada além do seu sussurro por entre dentes. Teus dentes... Trincados, distantes, agoniantes, trancados para mim.
Tecendo minha vida no estalar da língua, ritmo dos meus passos, embalo da minha dança.
Tuas palavras ao vento mudas vão passando por mim. Me beijando a pele e afagando os cabelos. Fazendo-me bela, me reaconchegando, até o fim do inverno...

Ou até quando a minha imaginação sustentar.