quinta-feira, 3 de novembro de 2011

50%

Ele segurava cuidadosamente a xícara entre as duas mãos. Do outro lado da mesinha para dois, ela já bebia o cappuccino à toda enquanto ele ainda resfriava seu chocolate quente (delicadeza demais para o gosto dela).

Ele não era alto nem baixo. Nem feio, nem bonito. Nem gordo, nem magro. A perfeita representação da mediocridade, sem nada que o tornasse interessante à vista. Boa gente, mas sem sal demais para ela, que gostava de tudo que era diferente. E tão certinho...
Ela era mesmo é dos impulsos, do correr na grama molhada, do andar sem rumo, da aversão à mesmice. E ele? Bom, ele era tão "ele" que não se permitia ser mais nada, ainda que tivesse vontade.

Uma gota do chocolate respingou no dedo dele, que apanhou um guardanapo e o limpou devagar. Ela o teria lambido, certamente...
Ele puxou um assunto qualquer, sobre um livro qualquer. Queria agradá-la, assumida amante das livrarias.
Fez-lhe cortejos tímidos, uma piadinha nem engraçada nem de todo sem graça... Ela riu.

Ele era discreto, sem traços marcantes que a fizessem querer desenhá-lo. Uma estrela apagada... Uma lâmpada fraca... Um short de ficar em casa. Ele era 50%. Um meio-termo exato. Um mais ou menos. Uma folha de alface: nem bom, nem ruim.
Ela era tudo ao extremo. Era o próprio extremo.
Tocou os lábios nos dele devagar.

Ele era o equilíbrio de que ela precisava.

Nenhum comentário:

Postar um comentário